quinta-feira, junho 07, 2012

Cântico de amor em louvor à amada

Ó, minha amada, o que quero em ti é o que não
[se escreve:
Quero teus sonhos e o que em ti me dói
Quero teus medos obscuros, teus desejos sujos,
Quero tuas vontades irrealizáveis, teus planos
[medíocres,
Quero tua pouca inteligência, tua sempre disposição
[para o sexo,
Quero teus bens, tuas dívidas, teus foras,
[mas dentro de ti.

Ó, minha amada, amo-te pelo que nunca serás,
[mesmo que te esforces,
[mesmo quando mentes, quando me odeias,
[quando me apontas teu rijo dedo
[e desafias os astros todos, vociferas, me ameaças,
[ébria, fora de si.

Amo-te, minha amada, quando já cansada
[de não ser ouvida, vens e deita-se no
[meu colo e choras qual criança e, mesmo que te
[afague os cabelos, tu sofres,
[imploras para que eu nunca te abandone,
[pois amanhã é um novo dia e você
[precisa pedir aumento de salário para cuidar dos filhos
[que sonhas um dia em ter.

Amada minha, quando levantares dessa nossa cama de ontem
Peço que me tragas aquele vinho não terminado de sempre
Peço que tragas tua loucura e teu ódio pelo mundo
Peço que acendas meu cigarro e depois me deixes
E vá embora, e não volte nunca mais
Com essa tua coisa que não te move
Com esse teu jeito que não se arranja
Com essa tua insatisfação que te destrói
Com esse teu amor que te invade.

Quer dizer, amor, volte.
Volte em breve, o tempo de um cigarro
Ou de uma garrafa de vinho não terminada de sempre.
Volte para casa trazendo tuas coisas definitivas:
tua vida difícil, teu problema com os psicotrópicos,
teu corpo marcado pelas inúmeras
[tentativas de suicídio
e teu amor, tão simples amor, que me desperta
[e me nina até que eu pegue no sono.