quarta-feira, outubro 26, 2011

Clandestino

um poema clandestino
pede para ser escrito
sem forma prescrita
sem erudição
um poema clandestino
(sem nome naturalidade
ou data de nascimento)
deseja apenas vir ao papel
e face ao descontente
despejar-se amiúde
um poema clandestino
voz de qualquer lugar
escondido na periferia
da felicidade
reúne-se com seus pares
outros poemas
(sem credo raça ou sexo)
e aprende uma língua diferente
a língua dos poetas clássicos
e chora acende vela
e pensa no dia de amanhã
num subemprego da palavra
com medo da deportação
o poema clandestino
se abriga em muquifos
(sem número gênero ou grau)
e sonha com a família distante
de todas as eras
e distâncias
que despacham poemas clandestinos
se enfiam em fronteiras
e morrem
poemas clandestinos morrem de
saudade
compondo breviários
à vida.