sábado, agosto 27, 2011

Fragmentos

"Pois o importante é tentar, mesmo o impossível".

(A morte e a morte de quincas berro dágua - Jorge Amado)

sexta-feira, agosto 26, 2011

Cantiga aquém-mar

Quando atracar no teu porto,
arriarei minhas velas, lentamente.
Amarrei meu barco no teu cais,
dançarei sobre teu píer
e descansarei nos teus trapiches.
Peço-lhe, com um alento viajante,
como um navegador de terras longínquas,
que descarregue minhas cargas,
que veja minhas ninharias, trazidas de outras
                                                                 [eras,
de aquém mar.
Então, com doce recato, partirei na madrugada fria.
Não saberei para onde o vento sopra,
mas tu, guiando meu leme,
conduzirá minhas lembranças na noite escura.

terça-feira, agosto 23, 2011

Fragmentos

Há tempos, precisamente quando li O Homem que Calculava, conheci um poeta chamado Rabindranath Tagore. Ele exerceria, um tempo depois, grande inspiração sobre minha escrita. Alguns dos poemas juvenis que tratavam de amor foram duramente dissipados, num desses ataques que às vezes nos assolam. Muito do que escrevi ainda está guardado, mas ficará para um exame póstumo: creio que o que faço agora seja um tanto mais digno de leitura. Segue aí um poema desse tão interessante autor:


Roubo do hoje a força
Fazendo nascer o amanhã.
Da janela acompanho com olhar
As nuvens do céu.
De novo a sombra sinistra
Tolda tristemente meus sonhos.


Tua imagem me acompanha
Por todos os lugares por onde ando.
E em todos os momentos
É a tua presença que espanta
As brumas do desconhecido.


Não faço perguntas.
Tenho medo das respostas que já sei.
Liberta do invólucro físico
Devolverei a matéria ao pó de que fora feito.


Vivi meus três caminhos na terra.
Purgatório. Inferno. Céu.
Tudo de acordo com meus projetos,
Minhas atitudes,
Procurando não cair nos mesmos erros.


Agora — vago e espero
Entre tropeços e flagelos
O ressurgir da verdade.


(Verdades - Rabindranath Tagore)

domingo, agosto 21, 2011

Canção Incidental

                                                            à Maria Teresa

Quando arqueja teu peito sonhador
Sinto teus modos - marejos leves.
Brincam as vozes distantes, na cor
Dos dias e noites, enquanto deves
Dormir, menina de sonhos e vontades,
Pois doce será toda essa vida
Se acaso me crer nessas verdades:
Que mesmo a existência de certo duvida
Desse doido encontro. E a calmaria
De dias futuros que por certo virão,
Fará de todas essas coisas, um dia,
Experiências tão belas, sem explicação.

quinta-feira, agosto 18, 2011

À Poesia que se ia.

A poesia, de repente, despediu-se de mim
com um aceno inconsolável
e embarcou na canoa, descendo o rio Cuiabá,
em direção a novas cidades.
Já não era sem tempo
quando ela sacou um lenço branco da lapela
(a poesia tinha um sentimento terno)
e sacodiu-o, criando revoadas de garças pacatas.
E lá ia a menina poesia tomar seu rumo na vida.
Sentei-me à Beira-Rio e bebi meu último
                                            [trago de esperança.

terça-feira, agosto 16, 2011

Vieste como um poema.

E, por entre os planos do dia, você.
Vieste e já era tarde.
Vieste com teu sol, rompendo-se em auroras.
Eram cores de tardes mornas, sombras & sons.
Sobre teus modos, gostos e sonhos.
Quando acordavas, o mundo se punha a viver
E nas distâncias do tempo sejam belos os dizeres.
E já não penso em loucuras e já não penso.
Possibilidades e rotas, corpos e vento:
Vida leva pra onde for.
Nas veredas desse teu jeito um tanto de luz
                               [brilha incólume sobre meus olhos
ao relento
das vontades.

domingo, agosto 14, 2011

passagem no tempo.

na boca do povo uma incerteza:
nuvens se ajeitam formando promessas
de chuva, trégua na secura do dia.

sexta-feira, agosto 12, 2011

Cidade Veloz

Você me ligou às 18h de ontem.
Fazia 42° na Fernando Corrêa e eu
não atendi. Carros alucinados
me sugeriam o caos da cidade
                                   [que se tornaria grande.
Segui em frente, desértico,
numa procissão doída,
pagando a promessa de um dia confuso.
Às 18h fazia 42° e o sol, torturando meus sentidos,
anunciava tempos difíceis.
Você me ligou e a Fernando Corrêa se pôs em calores,
                            [fumaças, carros, gentes e vida-século-21.

quarta-feira, agosto 10, 2011

Brasa

A brasa se apaga
lentamente
como se apagam as luzes
dos prédios cansados
como o sol que se põe
tilintando um dia
indiferente
se apaga com teus olhos
e com os sonhos de toda
gente
a brasa se apaga
como se apaga a vida

segunda-feira, agosto 08, 2011

Momento e poesia

você tomou o ônibus lotado
em direção ao centro velho
entre marias e joões você tímida
me olhava com tristeza branda
acendi um cigarro de filtro avermelhado
                                [e me pus a pensar em toda
                                [poesia que teu peito não sentia
                                [posto que fosse enorme sua briga
                                [com a vida

sábado, agosto 06, 2011

Poema de uma tarde

                                                                                                                                      à Máxima Madalena

           tenho vazios suficientes escondidos nas mãos
                                                    (Máxima Madalena)

Pergunto ao céu
onde estão tuas cores.
No meus olhos se escondem
pétalas de uma flor
inodora.
Quais teus cheiros?
Nos versos teus, árvores
frondosas dançando sós,
encontro um tanto de paz
                                 [e sombra. 
Pela minha cabeça crescem matos.
Roço minha pele procurando teus modos,
mas só encontro um poema
à tua espera.

quinta-feira, agosto 04, 2011

receita para um amor na iminência de ser

Se o amor te bater, morder,
                                   [dizer,
                                   [mentir, 
aceite.
Se o amor te roubar os pertences
                                   [que você,
                                   [com tanto custo,
adquiriu em várias prestações,
tolere.
Se o amor te trapacear, reclamar
                                  ["não vale nada".  
                                  ["só faz é mal".
entenda.

E se o amor te zombar a cara,
E se o amor te esconder o jogo,
E se o amor te pôr numa furada,
Aceite, tolere, entenda.

Mas se o amor aparecer triste,
como dessas tristezas que se vê num
filme P&B,
de décadas antigas,
de saudade e nostalgia,
de um tempo que soube ter sido muito bem aproveitado,
Ame.

Porque o amor só conjuga infinitivos com quem já amou.

quarta-feira, agosto 03, 2011

Um poema solitário

Teu nome recobriu-se de ausência
E eu te perdi pelas sendas da vida
Onde vai seu sorriso que me mordiscava
                                                              [palavras?
Onde vai sua boca que recendia promessas?

Não.
Não te peço que volte.
Não peço a
Não ser um pouco de nossas lembranças
Não perdidas em teu presente abissal.

Pelos meus dedos, na centelha dos tempos,
Encontrarei nossos modos:
Paciência e solidão.