sexta-feira, julho 29, 2011

Taquara Square

Te fumam e te cheiram, Maria
Te bebem e te comem, insana
Te mendigam, travestem e emana
De ti o sofrimento da noite e do dia

Em ti trabalham, ganham mixaria
Gente comum e gente sacana
Que vive como dá, se engana
Numa vida tosca e sem regalia


No teu chão de sujeira é indiferente
Ser rico ou pobre, sagrado ou puta
Por que tudo é junto e se escuta

O pesar triste de toda gente
Que sonha, que chora, sofre e sente
Essas dores da  vida de luta.

(Praça Maria Taquara, 2010)

quinta-feira, julho 28, 2011

Um poema livre

É cedo ainda. Ou será tarde?
O futuro me avista com uma de suas máscaras:
Não é carnaval. Ou será sempre carnaval?
Um poema me escreve.
Em minha cabeça se inserem
palavras destinadas à confusão.

Te escrevo um poema.
Você rasga, lê, guarda, mastiga.
Você deglute.
É cedo ainda e sempre há tarde.
Noite que não chega:
O futuro me procura com seus olhos desconfiados.
Fujo para os bares.
Um poema me consome.
Em tua cabeça, caras e bocas.
Você me rasga, vê. Você me joga fora.
Foda.
Você me engole como quem engole um passado franco.
E o futuro me espreita pelo buraco da fechadura:
A porta me guarda o presente.

quarta-feira, julho 27, 2011

Tempo

E então estava só.
Enquanto te esperava,
rondós da fumaça do cigarro
me diziam:
“ainda há tempo pra ter tempo”
E então eu tive.
E então eu te vi.
Sentei-me no meu futuro – sujo desconsolo
E protestei qualquer coisa que não se ouvia.
“Quando você chegou, nada falei. Nada faz lei”
Nem Juízo ao que eu sentia.
E Então, só estava?
Fazendo o que?
Em quanto tempo teve tempo?
Rondós e Madrigais,
Madrugais, e me (des)espere.

(Cuiabá, 2008)


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Eu resolvi postar uns textos que estavam publicados no recanto das letras. Comecei por "gatos", poema bobo, de 2005, e agora, um tanto mais "maduro", posto "tempo", de 2008. É fato que minha escrita mudou um tanto, fato que tenho me estabilizado um tanto mais como escritor, desde a ortografia à preocupação com a estrutura sintática. Eu escolhi esse poema porque me é um tanto querido, porque gosto dos dois últimos versos, e porque li um poema do Caio B.(grande Caio, bom poeta) que fala sobre cigarro. Enfim.

terça-feira, julho 26, 2011

Então, um poema.

Então, teu nome me invadiu a boca
e você fez folia na sala da minha cabeça
comeu e bebeu do que eu tinha guardado
gargalhou ao meu ouvido
andou pelos meus olhos
sentou sobre meus sentidos
e agora resolveu deitar nos meus pensamentos.
Pois fique, e durma.
Essa cama te abriga sorrindo.

segunda-feira, julho 25, 2011

àqueles de leão

o sol retorna à sua casa
posto que brilha sobre
um céu-insígnia
planetas te ascendendo
luas te sugerindo
o tom
e tu, debaixo do dia
não há nada de novo sob o sol
que para.
Planetas te rondam
Luas te refletem
o que há de vida
em ti
e tu, leão, rujas
mas não morda.

quinta-feira, julho 21, 2011

Nocturno n° 2

no quintal, a luz avermelhada
acorda, acorda, acorda, acorda
qualquer sombra projetada
no velho muro fissurado
No céu estrelado
nebulosas cantam um velho blues
e pensam sonhar:
songes et mensonges,
vêm de longe, dos meus olhos - luz
Pra se apagar.

domingo, julho 17, 2011

Gatos

Na noite mal iluminada
Sem lua e sem nada,
Ouve o gato atento
Só o uivo do vento
De noite todo gato
Faz-se pardo; de fato
É caçador dos melhores
É a noite de amores:
Alguns gatos-pingados
Estão enamorados!
É noite de gaudério
Para o gato de cemitério
Que vive só, pelos túmulos
Que conhece absurdos, cúmulos.
Sem gaticídio, sem tristeza
A noite é a vossa natureza
Gato, Gatos, que agonia!
Viver da noite e se fartar de dia!  

(Cuiabá, 2005)

terça-feira, julho 05, 2011

Em busca da Felicidade

Meu bem, precisamos de férias.
Descansaremos na metrópole,
faremos amor sobre carros & metrôs
e as luzes doentias dos outdoors
revelarão nosso mais íntimo sentimento
de angústia.
Meu bem, caminharemos
abraçados entre
                     [vendedores ambulantes e
o lixo das calçadas.
Nos amaremos ao som de sirenes, alarmes e
em nossas cabeças desfilará a agorafobia.
Depois, de sobremesa, fluoxetinas.
Meu amor, vem comigo pra metrópole,
lá onde há estresse e tudo é cinza,
compraremos a felicidade em doses de consumo:
liquidações e fast-foods.
Depois, antes de dormir, uma anfetamina pra
criar bons sonhos antinterioranos.

sábado, julho 02, 2011

O meu amor

Meu amor rasgou-me os olhos
Jorrou sangue e soro
Brotou uma flor de maracujá
que deu sono e um tanto de esperança
Amor meu 'rancou-me os lábios
e agora desbocado
                            (xingo a província)
vou por aí, cosmopolita e trágico
O amor me esfaqueou
Me encheu de furos pelo peito
costas garganta estômago costelas
mas deixou livre o coração
Agora agonizo um bolero descompassado
Assisto uns enlatados 
E guardo muito bem guardada a faca no coldre da
poesia
Agora o amor me deve uns contos
uma internação na santa casa
e - pra você ver - me deve abrigo.